Noticia_20160516-1_ImagemÚnica deficiente auditiva a ser aprovada no Processo Seletivo Contínuo (PSC) 2016, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ramylle Thayse de Carvalho Silva, 20, quer fazer história. Pioneira, pretende usar a falta de audição para abrir espaço no ensino superior aos portadores de surdez. Ela irá cursar Licenciatura em Linguagem de Libras, na qual pretende se especializar.

A receita para cursar a universidade é simples: “Muito aprendizado, paciência e dedicação”, diz a agora universitária, ao se expressar na Língua Brasileira de Sinais (Libras) durante a entrevista ao EM TEMPO. Uma vez graduada, a próxima meta será tornar realidade o restante do sonho. “Quero ter meu próprio salário e viajar o mundo. E também casar e ter filhos. Viver como uma pessoa normal, apesar da surdez”, declara.

Na busca pelo objetivo de vida, a aprovação no vestibular foi intensa na família, mas silenciosa. Filha única, Ramylle vive com o pai, Cláudio Sérgio Matias da Silva, 39, e a madrasta. A jovem ficou surda aos 2 anos, durante a Copa do Mundo de 1998. Ramylle dormia quando um rojão estourou na porta de casa. A menina ficou desacordada por 24 horas. Despertou em silêncio.

O trauma serviu de incentivo para superar obstáculos. “As pessoas que ouvem muitas  vezes não compreendem o surdo. Há quem encare de maneira preconceituosa. Para quem nunca teve essa experiência, acaba ficando desmotivada. Pretendo usar minha experiência nessa nova fase”, diz Ramylle, que vai estudar em uma sala normal, mas com tradutores de Libras.

É nesse ambiente, sem exclusão, que Ramylle pretende fazer novos amigos e influenciar pessoas a aprenderem a língua de sinais. O aprendizado acadêmico, segundo a universitária, será um processo. “Na prova do vestibular, senti bastante dificuldade em língua portuguesa e redação. Me senti diferente de todos, mas fui me acalmando e respondi tudo”, revela.

Usar a deficiência para tirar proveito da oportunidade é outra meta de Ramylle. Mas isso só a longo prazo. “Vou saber se vou tirar proveito ou não só com o tempo”, diz, ao lembrar que a deficiência é uma forma de encarar desafios e superar obstáculos. “Tive auxílio dos meus professores no ensino fundamental e médio, sem os quais eu jamais superaria minhas dificuldades. Isso me fez acreditar nos meus objetivos”, conta.

Para ela, a surdez é uma deficiência superada. “A princípio, foi difícil porque os professores que tive não compreendiam minha deficiência. Eles falavam de costas e, quando viravam, falavam mais ainda sem a preocupação em usar a Libras. Aos poucos, fui desenvolvendo a leitura labial. Se não tivesse treinado isso, talvez estivesse perdida hoje”, recorda.

Ramylle não pretende ser exemplo para ninguém, mas diz que vai incentivar outros surdos a entrar na universidade.

Por Lindivan Vilaça

Fonte: Emtempo

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