Mazinho de apaixonou pelo MMA. Hoje ele não consegue ficar longe das lutas e se transformou no xodó da academia

Manaus (AM), 09 de Fevereiro de 2015

Noticia_201502093A_ImagemPreconceito – Juízo preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude discriminatória. Pois bem, caro leitor, partindo deste conceito básico lhe perguntamos: em algum momento da vida você julgou alguém previamente? Não precisa responder agora.

Antes, o CRAQUE vai contar a história do lutador de MMA Walmar Pacheco Nobre – o Mazinho, que tem de Síndrome de Down e irá entrar no octógono neste mês para mais um combate contra seu maior oponente: o preconceito.Mazinho tem 18 anos e nasceu com Trissomia 21, ou Síndrome de Down, e no dia 21 deste mês fará uma “luta exibição” em um evento oficial de MMA. O duelo do jovem especial será a segunda luta da noite no Big Way Fight VI, no Centro de Treinamento da academia Nova União, no bairro Alvorada, na Zona Oeste, berço de feras dos combates como o campeão dos pesos penas José Aldo.

O adversário de Mazinho na luta exibição será o companheiro de academia Michel Costa. No entanto, o principal adversário do jovem lutador não está dentro do octógono e, sim, no pré-julgamento de parte da sociedade. E o evento promoverá o combate justamente para nocautear esse sentimento que impede as pessoas especiais em viver em comunidade.Desde pequeno Mazinho se tornou o mais querido da família de dona Rosemary Ferreira Pacheco, 48.

Noticia_201502093B_ImagemA mãe dele é só alegria e emoção ao falar do filho, que mudou de comportamento depois de começar a praticar a luta. “Ele era fujão. Cansei de ir buscá-lo por aí. Agora ele não foge mais e só pensa em treinar na academia”, conta a mãe orgulhosa. Até os 14 anos, Walmar dava bastante trabalho aos familiares. O garoto costumava parar mototaxistas e rodava pela cidade até ser levado para uma delegacia por não pagar as corridas.“Ele era danado. A viatura da PM (Polícia Militar) cansou de vir deixar ele aqui em casa. Eles (policiais) já até o conheciam, pois ele sumia. Nós não podíamos piscar que ele desaparecia e eu e o meu marido saíamos pra rua atrás dele”, relata dona Rosemary, na porta do comércio que possui no bairro Alvorada.a doençaA Síndrome de Down é uma doença causada por um par extra de cromossomos no par 21.

 Normalmente, os humanos apresentam em suas células 46 cromossomos, que vem em 23 pares herdados dos pais e as crianças que possuem a síndrome têm 47 cromossomos. Isso faz de Mazinho um ser especial, e bota especial nisso. O jovem lutador é uma exceção entre os colegas de treino na academia Nova União.“Ele chega às 14h e fica treinando até as 16h, 17h, 18h e por aí vai. Se não o ‘expulsarmos’, ele vai ficando”, brinca Rafael Moreira, 24, treinador e amigo de Mazinho. O rapaz é faixa-azul de jiu-jitsu e tem como principal golpe nos combates nos tatames um poderoso mata-leão. “Ele é forte. Sabe aplicar os golpes. É muito aplicado nos treinamentos e aprende tudo muito rápido.

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Dançarino e muito namorador

 Não pense que a vida de Mazinho se resume a treinar luta. Ao contrário, o rapaz, que estuda pela manhã na escola da Associação de Pais e Amigos dos Excepicionais (Apae), assim que chega em casa, se alimenta como um verdadeiro campeão e vai curtir as músicas do ídolo Michael Jackson. Isso mesmo, o rapaz é fã do astro do pop e até ensaia alguns passos de dança. E por falar em dançar, o rapaz é um “pé de valsa”, segundo sua mãe.

“Ele adora dançar. Ouvir música sertaneja e até toca violão”, conta dona Rosemary revelando mais um atributo do jovem lutador. Quando perguntada sobre a principal qualidade do filho, a mãezona respirou fundo, olhou nos olhos de Mazinho e disparou: “Nenhuma! Ele é tudo pra mim. Não tenho como escolher uma qualidade apenas. Agradeço a Deus por ter ele na minha vida”, confessa a mãe com os olhos marejados.

O coração de Mazinho é gigante. Ele é o xodó da academia e os companheiros o veem como um amigo de sempre. Carinhoso e brincalhão, Mazinho distribui simpatia a todos, mas o coração do jovem guerreiro dos tatames tem um espaço reservado para uma pessoa em especial. O jovem, que pratica lutas há quatro anos, tem o mesmo tempo de namoro com uma jovem que conheceu na Apae.

Mazinho mostra orgulhoso as fotos da moça, que também possui a Síndrome, e só se dá por satisfeito quando nos exibe uma self feita por ele no celular ao lado da namorada. Mesmo com dificuldade da fala, uma das cacterísticas da doença, o rapaz conta que é apaixonado pela jovem.

Octógono

Será a segunda vez que o garoto que tem Síndrome de Down entra no octógono para um combate. A primeira ocorreu no final do ano passado e também foi uma luta exibição. Na ocasião, Mazinho enfrentou Maurício Almeida, campeão nos pesos pena, e teve ótimo desempenho. O combate teve duração de três minutos e já estava preparado para que Mazinho vencesse a luta.

Naquela noite próximo do Natal, Mazinho venceu a luta contra seu oponente por finalização e levou às lágrimas os companheiros de academia. Batalha vencida no octógono, porém a guerra contra o preconceito continua. Mal sabem aqueles que o discriminam que o principal golpe de Mazinho não é o “Arm Lock” ou um “Jab” bem encaixado. Mas seu sorriso sincero e o abraço apertado de quem não tem maldade no coração.

Tratamos ele como um aluno normal. Sem discriminação alguma. Só temos cuidado para ele não se empolgar muito e acabar nocauteando a gente”, brinca mais uma vez o mestre de Mazinho.Até pouco tempo, crianças nascidas com Down eram afastadas do grupo social e até familiar. Porém, assim que se investiu na estimulação precoce para o desenvolvimento dessas crianças e de suas potencialidades, elas se mostraram capazes de vencer as limitações e foram sendo integradas à sociedade.

O problema é que o preconceito ainda impera em certas pessoas. “Teve um vizinho que não deixava o Mazinho nem sentar na calçada da casa dele que ele expulsava a criança. Meu marido deixou de falar com muita gente por conta do preconceito que tinham com o garoto. Isso era muito ruim pra nós e pra ele”, confessa a mãe do lutador.

Fonte: http://acritica.uol.com.br/craque/Jovem-Sindrome-Down-gracas-esporte_0_1300070027.html

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