Recordista mundial nos 200m nado livre, Guilherme Maia almeja ser o melhor do mundo e sonha com atletas com deficiência auditiva sendo considerados paralímpicos

Foi com pouco mais de um ano de idade que o santista Guilherme Maia deu as primeiras braçadas na piscina. Influenciado e guiado pela mãe, a ex-nadadora Andrea Fiore Maia, o atual recordista mundial nos 200m nado livre entre surdoatletas praticamente nasceu na água. Hoje, ele é o principal nadador entre deficientes auditivos do Brasil e almeja ser o melhor do mundo, “nem que seja por um dia”, como o próprio diz.

Guilherme compôs a seleção brasileira que disputou medalhas no Mundial de Natação de Surdos, realizado no Brasil pela primeira vez, no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, no mês passado. Na competição, que contou com atletas de 29 países, o santista subiu ao pódio duas vezes, após a prata faturada nos 200m livre e o bronze nos 100m livre.

“Cometi um erro na batida de mão dos 200m livre e perdi o ouro para um russo. Não vou negar que fiquei decepcionado comigo mesmo por isso. Por 0s02, mantive o meu recorde em meu poder, mas perdi o ouro que tanto sonhei. Poderia ter melhorado mais os tempos, mas, na visão geral, fui muito bem”, comentou Guilherme em conversa com A Tribuna On-line. Segundo ele, os surdoatletas da Rússia estavam “fortíssimos” no Mundial deste ano. “A preparação e apoio deles é igual aos olímpicos”.

Reconhecimento e adaptação

Aos 30 anos, ele acumula vitórias e não para de sonhar dentro do esporte. O maior de seus sonhos é que surdoatletas sejam considerados paralímpicos. “Os surdos não são incluídos nos paralímpicos. Isso me prejudica demais. Seria muito melhor competirmos com eles. Seria excelente para arranjarmos patrocinadores e apoiadores. Por não sermos paralímpicos, não somos divulgados e reconhecidos”, desabafou.

Competir entre os olímpicos também seria uma possibilidade. Contudo, alcançar os índices obtidos por esse tipo de nadador seria uma tarefa difícil, já que o rendimento e os resultados dependem da estrutura para treinamentos e do aporte financeiro, questões que são desiguais entre os olímpicos e os surdolímpicos, como o santista aponta.

Tudo indica que Guilherme nasceu com deficiência auditiva. Ele conta que sempre treinou com ouvintes, mas que as saídas tinham que ser adaptadas para ele. “No início, minha mãe batia no meu bumbum. Depois, o juiz passou a dar sinal com o braço. Só mais tarde veio o sistema de luz”, disse ele. Na natação adaptada, essas luzes ficam instaladas nos blocos de partida, sinalizando o momento em que os nadadores devem se lançar à água.

Novos recordes e espelho para a juventude

Há dois anos, na Surdolimpíada de Samsun, na Turquia, Guilherme atingiu a melhor marca mundial nos 200m nado livre, completando a prova em 1min52s55. Desde então, ninguém conseguiu superá-lo nesse tempo. E ele não quer que ninguém além dele próprio bata seu recorde. Aliás, o santista, que é formado em Educação Física, também quer ser recordista nos 100m livre.

Inspirado por sua mãe, que o ensinou a lutar “para ser um campeão nas piscinas e na vida”, e fã de Michael Phelps, Guilherme diz se enxergar como um incentivo para a nova juventude de atletas surdos. “Quero que acreditem e mostrem seu potencial. Ser surdo é matar um leão por dia. É driblar os preconceitos que a fala nos mostra”, finalizou.

Fonte:https://www.atribuna.com.br/

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