Pesquisa da estudante Jamilca de Almeida é um marco na comunicação entre profissionais da odontologia e pacientes surdos

Os surdos formam uma grande comunidade no Brasil com mais de 10 milhões de pessoas, com cultura própria e sob a égide da Língua Brasileira de Sinais (Libras), reconhecida no país desde 2002, de acordo com a Lei nº 10.436 e do Decreto nº 5.626, de 2005, que garantiu o reconhecimento da Libras como a língua da comunidade surda brasileira, além de assegurar aos surdos o direito à educação bilíngue. Porém, quando o assunto é formação educacional as barreiras crescem de forma exponencial. A falta de professores e intérpretes capacitados, aliada à dificuldade de comunicação e acessibilidade provocam a evasão escolar e o baixo acesso ao Ensino Superior e ao mercado de trabalho.

Dentro da perspectiva da educação de surdos, a Universidade Católica de Brasília (UCB) tem dado passos mais consolidados no cenário nacional. Além de contar com a disciplina de Libras na grade curricular, que é obrigatória para todos os cursos de licenciatura e optativa aos bacharelandos nas Instituições de Ensino Superior do país, nesse contexto a Universidade tem se destacado pela produção de estudos na área, como o projeto da estudante do curso de Odontologia, Jamilca de Almeida do Espírito Santo, que está produzindo um glossário, com novos sinais em Libras para o ensino e capacitação odontológica no atendimento de pacientes surdos.

O trabalho da Jamilca é orientado pela Prof.ª M.ª Valícia Ferreira Gomes e é coorientado por um dos maiores especialistas em atendimento odontológico geriátrico e em pessoas com deficiência no Brasil, Prof. Dr. Alexandre Franco Miranda. Além deles, fazem parte do trabalho a Prof.ª M.ª Daniele Machado da Silveira e a Prof.ª Márcia Francisca Diogo Rodrigues, que é surda.

Jamilca de Almeida ressaltou a lacuna de comunicação existente para o desenvolvimento de sua pesquisa. “Estou trabalhando na Clínica-Escola de Odontologia, com uma paciente que é surda, e eu senti essa dificuldade de comunicação. Foi então que eu fiz um curso e a disciplina de Libras na Universidade, passando a entender um pouco mais sobre o mundo da pessoa surda. Após o curso, pude perceber que muitos sinais simplesmente não existiam no diálogo entre paciente e dentista. Foi aí que resolvi, juntamente com a minha orientadora, desenvolver os sinais e produzir um vídeo para mostrar aos meus colegas de curso e professores uma grande lacuna de comunicação na nossa profissão”, frisou.

A estudante e a equipe de trabalho fizeram o mapeamento de 123 sinais-termo e identificaram outros novos 73 sinais para atuação odontológica. Os sinais estão fundamentados nos parâmetros de língua de sinais que são: Configuração de Mãos, na Orientação, no Movimento e na Expressão Facial.

“O objetivo da nossa pesquisa é justamente o de identificar sinais que possam melhorar o atendimento na área odontológica e também na área da saúde”, destacou a Prof. Valícia Ferreira.

A professora Márcia Rodrigues é peça-chave para o desenvolvimento e validação dos novos sinais. Para ela, que é surda, ajudar no desenvolvimento da língua de sinais é trazer cidadania para a comunidade dos surdos do Brasil.

“Sabemos que a comunicação em algumas áreas é muito difícil, mas eu percebo que está evoluindo bastante, principalmente pelo interesse das pessoas em aprender a Libras. Então quando a gente cria um novo sinal de estudo e mostra por meio de classificadores a estrutura do corpo e dos parâmetros da língua de sinais é mais fácil de entender, e a tendência é continuar porque para o surdo é muito difícil, às vezes não conseguimos chegar a um sinal específico, daí usamos duas ou mais expressões manuais para demonstrar o sinal, para ficar mais claro”, explicou a Prof.ª Márcia.

O Prof. Dr. Alexandre Franco Miranda ressaltou o processo de cidadania para a comunidade surda na elaboração de novos sinais. “Hoje a Odontologia esbarra na dificuldade de formação e integração de pacientes (surdos), então, a nossa preocupação na UCB é fazer com que o nosso estudante saia para o mercado de trabalho com esse diferencial, que é a comunicação com esse público, trazendo dignidade e qualidade no atendimento. O dentista não fica fazendo mímica, mas conversando com o paciente surdo, por isso a importância de abrir o olhar dos nossos estudantes, da sociedade, não só para o contexto clínico, mas um contexto de inclusão social, cidadania e dignidade para todos”.

“Com esse trabalho nós esperamos atingir não somente a comunidade da UCB, mas todo o Brasil e o mundo. Estamos indo agora, em outubro, para a Bolívia para levar o trabalho que desenvolvemos dentro da Universidade na área de atendimento a pacientes especiais, mas o principal foco é justamente pegar esses trabalhos, como o da Jamilca, que abraçam a causa da Odontologia de Pacientes Especiais e que inovam, implementam, criam novas perspectivas dentro da nossa profissão, então, a validação desse trabalho só mostra que temos muito a caminhar e a crescer em busca da melhoria do atendimento à pessoa com deficiência”, explicou o professor Alexandre.

Confira aqui o vídeo elaborado pela estudante Jamilca mostrando 20 novos sinais-termos desenvolvidos para o atendimento odontológico.

Fonte: https://ucb.catolica.edu.br/portal/estudante-pesquisa

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