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A linguagem é fundamental para o desenvolvimento do ser humano. Sua ausência pode gerar grandes dificuldades no desenvolvimento social, emocional e intelectual da pessoa. A partir da comunicação, verbal ou não-verbal, é possível compartilhar mensagens, ideias e sentimentos, mas para isso é necessário que ela seja clara e inclusiva.

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é a segunda língua oficial do Brasil desde 2002, quando foi oficializada pelo Ministério de Educação (MEC) através da Lei nº 10.436. Trata-se de um sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, utilizado pela comunidade surda do país. Ao contrário do que muitos pensam, a Libras não é universal, pois cada país possui a sua própria língua de sinais. No caso do Brasil, essa língua teve influência da língua francesa de sinais, tendo sido introduzida por Ernest Houet, fundador do Instituto Nacional de Educação de Surdos do Brasil (INES), na época de Dom Pedro I.

Em 2005, foi sancionado o Decreto nº 5.626, que incluiu a Libras como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em níveis médio e superior, e no curso de Fonoaudiologia, além de constar como disciplina optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional. O decreto também estabelece regras para o uso e a difusão da Libras e define o perfil do profissional para atuar na educação de pessoas surdas ou com deficiência auditiva, entre outros tópicos.

Este decreto foi a base para a criação do curso de Licenciatura em Letras Libras da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), que, desde 2016 oferta vagas anuais no campus Belém. A Coordenadora do curso, a professora Hilda Freitas Rosário explica que a Libras não é mais uma modalidade do Português e, sim, uma língua própria e oficial, que “possui uma estrutura gramatical, sintaxe e semântica que podem favorecer a expressão cultural e artística dessa comunidade, permitindo inclusive metáforas, ironias e piadas, por exemplo”. Por “comunidade surda”, entende-se: pessoas surdas, familiares, profissionais e demais pessoas fluentes na língua de sinais.

Diferente da linguagem falada, que é oral-auditiva, a comunidade surda utiliza a linguagem viso-espacial, ou seja, utiliza a visão e o espaço através do uso de movimentos e expressões corporais e faciais para se comunicar. Assim como o Português e quaisquer outras línguas, a Libras também possui variações linguísticas, como termos regionais e gírias.

De acordo com a professora, uma criança surda possui as mesmas fases de desenvolvimento que uma criança ouvinte no processo de aquisição da linguagem. “Da mesma forma que uma criança ouvinte balbucia e tem determinadas vocalizações, a surda também tem. A diferença é que a surda não tem um feedback auditivo”. Devido a essa falta de feedback (ouvir a própria voz), é necessário que haja um acompanhamento para que se desenvolva a oralização.

No entanto, uma vez que o canal de comunicação da pessoa surda é a visão, a língua de sinais é a língua nativa dessa criança. “É a língua que ela adquire de forma natural a partir de um diálogo contextualizado. As crianças surdas filhas de pais surdos adquirem a linguagem com as mesmas fases que uma criança ouvinte filha de pais ouvintes. A diferença é só a língua e a modalidade”, explica.

A estrutura da língua de sinais

A Libras trabalha com cinco componentes, que estruturam o sinal: configuração de mão, que é a posição dos dedos; ponto de articulação, que indica onde o sinal pode ser tocado no corpo ou no espaço sígnico (espaço encontrado em frente da pessoa); orientação, que é o plano em direção ao qual a palma da mão é orientada; movimento, uma vez que os sinais geralmente não são estáticos; e expressão não verbal, composta por expressões faciais e corporais.

“Esses componentes são adquiridos gradativamente pela criança surda, assim como a ouvinte adquire os componentes da oralidade e da grafia de forma espontânea, interagindo com seus pais ou cuidadores”, diz a professora. Ela destaca que crianças surdas precisam do convívio com adultos surdos desde cedo para garantir um bom desenvolvimento linguístico. Ao todo, a Libras possui 73 configurações de mão.

De 2007 para cá, com a política de inclusão definida a partir dos próprios dispositivos legais, a professora avalia que há uma grande diferença entre as pessoas surdas mais jovens e as mais antigas, que costumam oralizar e dificilmente dominam a Libras desde crianças. “O padrão na educação de surdos era o método oralista, que foi estabelecido em 1880 e definiu uma trajetória tortuosa na educação de surdos por muitos anos. Hoje, existe um novo movimento de resgate de cultura, língua e identidade surdas, por isso as crianças já não oralizam. A oralidade hoje não é mais obrigatória para o surdo; se tornou facultada”, afirma.

Libras na Ufra

O curso de Letras Libras da Ufra possui hoje 82 alunos regularmente matriculados. O curso possui atualmente quatro alunas surdas, que têm prioridade de vagas. Dois dos 12 professores também são surdos – Pâmela Matos e Sinésio Filho. Além disso, a Ufra conta hoje com tradutores-intérpretes em seu quadro de servidores, sendo quatro deles somente no campus Belém, onde auxiliam nas aulas e atividades do curso.

A professora Hilda Rosário avalia que a Universidade vem vivenciando um avanço gradual no campo da inclusão desde a criação do curso. “As pessoas estão mais sensíveis em relação às pessoas surdas. O atendimento por parte dos funcionários melhorou através de um olhar mais empático e com menos preconceitos”, conclui. Visando tornar o espaço universitário mais acessível, a equipe do curso pretende sinalizar todos os prédios do campus Belém utilizando sinais da Libras e criar um glossário com os sinais de palavras específicas da instituição, tais como “bagé” e ”RU”.

O curso de Licenciatura em Letras Libras da Ufra tem o objetivo de formar profissionais para atuarem na área educacional, a fim de articular conhecimentos teóricos e práticos, com uma postura reflexiva, e oferecer subsídios metodológicos e pedagógicos para atuarem no ensino da Língua Brasileira de Sinais como primeira e segunda língua, nos ensinos fundamental e médio e em diferentes segmentos culturais, além de garantir o exercício da democracia e da cidadania.

Texto: Jussara Kishi e Isadora Simas

Ascom Ufra

Fonte:https://novo.ufra.edu.br/

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