Noticia_20151123-A_ImagemApós três anos de pesquisa e trabalho árduo, a primeira professora surda concursada da Universidade Federal do Pará (UFPA), Ellen Formigosa, do curso de Letras – Libras, retorna a Belém com o título de mestre obtido na Universidade Paris 8, na França. Ela é a primeira professora surda paraense a concluir o mestrado neste país.

A sua dissertação de mestrado, que teve como objetivo contribuir para a reflexão didática do ensino de Libras no Brasil e, em especial, na UFPA, é um importante passo na busca pela excelência na educação inclusiva no Pará.

“A importância da pesquisa sobre o ensino de Libras para os surdos é que os professores deixem de focar na Libras das Regiões Sul e Sudeste como único referencial de Língua de Sinais (LS). Por exemplo, a criação de recursos educativos multiplicaram em todo o Brasil, mas não valorizam a variação, ou seja, as características específicas do modo de falar a Língua de Sinais de cada grupo dos alunos surdos. Poucos estudos linguísticos e sociolinguísticos foram realizados sobre esse tema no Brasil”, explica a pesquisadora.

Superação – Tendo sido a primeira surda a ingressar por meio de concurso público como docente da UFPA no curso de Letras – Libras, ofertado pela primeira vez no Campus de Marajó – Soure, Ellen tem uma história de superação, que emocionou até mesmo o reitor Carlos Maneschy. Ela deu-lhe a notícia em um encontro no Gabinete, do qual participou também a professora Luizete Sobral, que já foi uma das coordenadoras do curso de Libras da UFPA.

Noticia_20151123-B_ImagemPara a pesquisadora, o tempo que passou na França foi um desafio, marcado por um forte choque cultural. “Uma surda chega à França sem saber Língua de Sinais Francesa, não fala francês e quer fazer mestrado. A princípio, tudo é muito difícil. Mas, aos poucos, eu fui aprendendo a Língua de Sinais Francesa (LSF), assim como o francês escrito, e consegui realizar meu objetivo, que era fazer o mestrado na França, um país referência na educação de surdos”, conta. Para escrever a dissertação, Ellen contou ainda com a ajuda de uma intérprete em LSF que traduzia o que a pesquisadora lhe falava de forma gestual para o francês escrito.

“Ela é um exemplo para todos os estudantes e uma prova de que os programas de inclusão apresentam resultados excelentes. Espero que seja o primeiro de muitos casos de sucesso que ainda teremos a comemorar na UFPA. Como professor e como reitor, sinto muito orgulho de que nossa Universidade esteja contribuindo para superar barreiras e mudar a vida das pessoas”, disse Carlos Maneschy.

Iniciativa Pioneira – O curso de Graduação em Libras-Português PL2 foi uma iniciativa pioneira do Campus da UFPA na Ilha do Marajó, município de Soure, desde 2011. Em 2012, o curso foi transferido para Belém. Anualmente, ele oferta cerca de 30 vagas e tem como objetivo formar profissionais que podem atuar de maneira especializada com a educação de surdos. Esses profissionais têm a missão de ajudar a promover a inclusão da pessoa surda na sociedade, por via do conhecimento e da difusão da língua oficial dos surdos no Brasil, a Libras.

De acordo com Ellen Formigosa, o ensino de Libras ainda é muito limitado no Pará. Mas esse quadro não é exclusivo no Estado, pois abrange o Brasil todo. “Geralmente, os professores surdos trabalham com a norma usada de Libras ou LS regionais, também eles utilizam a Libras juntamente com o português, mas são línguas artificiais. Eles valorizam sua língua institucional e a cultura de grandes cidades. Poucos professores utilizam os recursos visuais (gestos, mímica, dramatização) de forma adaptada à realidade e à cultura locais. É imprescindível valorizar a língua local ou as LS das microcomunidades e as LS emergentes, cuja iconicidade revela sua força cultural e identidade”, avalia a pesquisadora.

Desafio futuro – O desafio da docente, daqui para frente, é contribuir para o desenvolvimento do ensino da Libras, com novas metodologias, fortalecendo as LS das microcomunidade e as LS emergentes, trabalhar para a reflexão sociolinguística sobre o ensino de LS, compartilhando com os colegas professores e contribuindo com a reorganização do projeto pedagógico do curso da UFPA de Letras – Libras, e Português como segunda língua para surdos.

Texto: Jéssica Souza – Assessoria de Comunicação da UFPA

Fotos: Adolfo Lemos

Fonte: http://www.portal.ufpa.br/

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