Equipe médica buscou aplicativos de celular e livros de saúde em Libras.

Paciente também estava com baixa visão e sequelas motoras nas mãos.


Noticia_20150729-2A_ImagemO vendedor autônomo Ralf Amorim Amstrong, de 29 anos, deficiente auditivo desde os 4 meses de vida, se tornou um paciente especial para uma equipe médica do Hospital São Julião, em
Campo Grande. Desde que chegou ao local, há quase um mês, a comunicação entre ele e os médicos se tornou um desafio para as duas partes. O primeiro objetivo era saber o histórico do paciente.

A equipe médica se desdobrou para tentar se comunicar com Ralf, que além de deficiente auditivo também estava com a visão prejudicada e gestos também comprometidos, por conta da diminuição motora nas mãos provocada pelo diabetes. Do outro lado, o paciente tentava se expressar, mesmo diante das limitações.

A dificuldade de comunicação era tanta que os médicos não tinham conhecimento nem do histórico de saúde do paciente. O que poderia ser um problema acabou virando motivação para a equipe buscar conhecimento na Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Noticia_20150729-2 Texto_ImagemA ajuda veio da internet, onde os médicos descobriram um aplicativo de celular e livros de Libras para área da saúde. Para os profissionais, um desafio diferente, inédito para a maioria. Para a família do Ralf, um esforço que demonstrou boa vontade em fazer a diferença na reabilitação do paciente.

“Vi nos médicos essa dedicação de fazer o melhor para atender cada paciente de uma forma mais humanizada, principalmente meu irmão. Eu já sabia da fama do hospital de ter um atendimento diferenciado”, disse o músico Alexsandro Oliveira Amorim, 36 anos, irmão de Ralf.

Alternativas

Um dos médicos que atendeu Ralf, Fábio Sartori disse ao G1 que, no primeiro momento, não sabia como lidar com o paciente especial. “Quando vi pensei: e agora? Como vou falar com esse cara? Minha mãe, que é psicóloga, trabalhou com deficiente auditivo na educação, então me ensinou algumas coisas de Libras quando eu era guri, mas nunca aprendi o suficiente para estabelecer uma conversa e desaprendi porque não usei”, explicou Fábio.

Também médica da equipe, a doutora Isabella Diniz Melo Falkine, diz que na faculdade eles não tinham opções de curso de Libras para área da saúde. O aplicativo de celular, que traduz palavras e frases, faladas ou escritas em gestos de Libras, se tornou uma das ferramentas usadas pelos profissionais.

Noticia_20150729-2B_Imagem“A equipe tem enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, fisioterapeuta e, no começo, a gente pensou em fazer algum curso, a gente até achou alguns, só que o paciente já estava aqui, então a gente ia assistir a primeira aula de Libras e ele provavelmente já teria alta. E outra, a gente não sabia também direito o quanto de Libras ele sabia”, considerou Fábio.

A outra opção é a ajuda do irmão de Ralf, que vai quase todos os dias ao hospital. Mesmo sem saber a linguagem de sinais, Alex diz que consegue se comunicar com o irmão por gestos improvisados, por isso ajuda os médicos na comunicação básica.

“A gente precisava conversar com ele para saber o mínimo, de como está indo ao banheiro, se está dormindo, se não está, se está com dor e aí a gente foi adaptando. Então, achamos um aplicativo no celular e fomos aprendendo”, relatou o médico.

Com certa dificuldade para traduzir a pergunta feita pelo G1, o irmão improvisou gestos e perguntou a Ralf como era o contato com a equipe médica. Com movimentos resumidos, o paciente respondeu, segundo o irmão, que o esforço dos médicos foi importante para melhorar o atendimento.

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Outra dificuldade encontrada é que a linguagem de sinais, assim como a comunicação falada e escrita, tem variações dependendo da região do país, como se fosse um sotaque, segundo Alex.

A terceira alternativa é o livro específico sobre saúde tem ilustrações e foi comprado pelo médico com ajuda do funcionário de uma livraria. “Vi na internet, mas não tinha venda online. Então entrei em contato com o funcionário da livraria e pedi pra ele enviar

Histórico

Com olhar curioso e sempre atento aos movimentos próximos, Ralf passa os dias observando a rotina do hospital, onde está há quase um mês. A dificuldade na visão impede que ele ocupe o tempo usando internet, redes sociais ou lendo livros, tarefas da rotina de quando está fora do hospital, segundo Alex.pra mim pelos Correios”, explicou.

Antes de dar entrada no hospital São Julião, Ralf ficou internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital Universitário de Campo Grande, depois de sofrer uma parada cardiorrespiratória em casa. Os problemas de saúde começaram depois que ele descuidou do tratamento do diabetes, doença descoberta há dois anos.

Noticia_20150729-2D_ImagemParte do histórico do paciente foi descoberto pelos médicos com a ajuda de outra funcionária do hospital, que também é deficiente auditiva. Segundo Fábio, a colega fazia leitura labial do que os médicos falavam e conseguia traduzir para o paciente, que respondia.

O médico Fábio explica que os problemas na visão e diminuição motora das mãos de Ralf foram consequências de cetoacidose diabética, que é uma complicação aguda do diabetes. Segundo o profissional, isso geralmente acontece quando o paciente não sabe que é diabético.

“Por isso nossa preocupação se ele tinha noção da seriedade da doença”, explicou. Segundo a família, Ralf sabia das condições de saúde e estava seguindo o tratamento corretamente, até que parou de tomar insulina por conta própria, sem a família saber.

A previsão é que o paciente tenha alta médica até a sexta-feira (31), quando deve ir para a casa retomar as atividades. Quando isso acontecer, Alex diz que vai cuidar mais de perto do irmão, com a ajuda da família. Ele garante também que junto com a mãe via fazer um curso de Libras, para melhorar a comunicação com o irmão.

“Por descuido nossa família nunca buscou aprender Libras, mas agora vamos fazer isso. O Ralf tem vários amigos, viaja o Brasil todo, para conhecer lugares novos com a família. Sempre se virou sozinho, desde criança. Estudou em escola especial, depois foi trabalhar e só parou agora, porque está no hospital. Saindo daqui deve retomar a rotina”, reforçou o irmão.

Ainda segundo Alex, a esposa de Ralf também é deficiente auditiva. “Eles têm uma filha que não tem deficiência e é a intérprete deles para tudo”, explicou o músico. Em homenagem ao irmão, ele diz que pretende, junto com a esposa, adotar uma criança e revela preferência por órfãos que tenham deficiência auditiva.

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“É uma forma de homenagear meu irmão, dar um sobrinho especial como ele e também dar oportunidade de uma criança órfão ter uma família”, ressaltou.

Fonte:http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/

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