A partir do estabelecimento de parcerias com instituições especializadas do cenário nacional e internacional, a oferta de formações na área da surdez por meio de projetos e estágios junto às instituições parceiras e da criação da primeira turma de graduação em Libras no Campus da UFPA no Marajó – Soure, muita coisa mudou no que consiste à educação de surdos na região. Nasceram projetos, programas, eventos e até pós-graduação na área, os quais, por sua vez, geraram pesquisas e profícuas discussões sobre como melhorar e aprofundar as técnicas de educação inclusive na Ilha e na UFPA como um todo. Saiba mais sobre estas conquistas na sexta e última reportagem do UFPA em Série: Educação de surdos.

Segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil do ano de 2013, o arquipélago do Marajó, no Pará, detém os piores indicadores no que consiste à Educação. No caso do município de Soure, classificado como tendo médio desenvolvimento humano, o índice de educação é 0,525, em um intervalo de medição que vai de 0 a 1. No entanto, o município de Melgaço, também situado no Marajó, ficou na pior posição do ranking, com um índice de 0,418, sendo que índices abaixo de 0,499 são considerados muito baixos. Outros sete municípios na Ilha encontram-se em situação parecida, o que demonstra que a busca de melhorias na área de educação nessas localidades são urgentes, sobretudo quando se trata de educação inclusiva.

Investigação – Estudos realizados por estudantes de graduação do próprio Campus do Marajó-Soure, sob a orientação do docente Waldemar do Santos Cardoso Júnior, apontam que, no município, há mais de 24 surdos em uma população de 23,8 mil habitantes e que, a maioria deles é semianalfabeta e não tem nenhum conhecimento sobre sua língua oficial, a Libras, como base para o entendimento do Português, a segunda língua. A pesquisa investigou um universo de 16 surdos, nas idades de seis a mais de 28 anos, concluindo que, dentre os surdos entrevistados, que estudam  ou estudaram em Soure, nenhum apresentou a habilidade de leitura do Português. “Ainda que estivessem na 5ª série do Ensino Fundamental, não conseguiram ler textos contendo informações que lhes eram extremamente familiares”, conta o professor. O estudo apontou, ainda, que, dos surdos entrevistados, 43.75% não estão mais na escola e 6.25% nunca sequer chegaram a frequentar.

Graduação – Atendendo à determinação do Ministério da Educação (MEC) que, ao criar o Programa Pró-Libras, em 2005, estipulou o período de dez anos para que todas as universidades públicas brasileiras criassem graduação em Libras e ofertassem a atividade curricular Libras como disciplina facultativa nos demais cursos – única maneira de se prover formação adequada nessa área – surgiu a graduação em Libras da UFPA e diversas outras iniciativas com interesse na área da aquisição da linguagem por pessoas surdas.

De acordo com o que relata o então bolsista do Campus de Soure e professor substituto da graduação em Francês, Eder Barbosa Cruz, o qual participou da estruturação do curso de Libras no município e de estágio no exterior, por meio do Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris (INJS), “em 2009, o Campus, o INJS e a prefeitura de Soure assinaram uma convenção firmando parcerias, na qual a prefeitura deveria adaptar a Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Alonso como escola piloto para o desenvolvimento da educação de alunos surdos”. E, assim, as iniciativas começaram a tomar forma.

Ensino e pesquisa – Também, mediante a parceria com o INJS, começaram a ser realizadas em Soure, atividades de ensino e pesquisa como os Fóruns de Discussão sobre Políticas Públicas para a Inclusão Social de pessoas surdas e cegas do Marajó e o Seminário Interdisciplinar de Estudos da Linguagem Aplicados à Educação de Surdos, além de programas e projetos na área da capacitação em Libras, a exemplo do “Libras para Todos” e o “Luz e Libras”.

O Programa “Libras para Todos” aprovado pelo PROEXT, edital n° 5/2010, teve vigência de um ano com o objetivo de difundir para alguns campi da UFPA, por meio de teleconferências transmitidas pelo Campus do Marajó – Soure, formações relacionadas à surdez, à educação de surdos e Curso de Libras. As comunicações relacionadas à surdez eram proferidas por professores do quadro e por profissionais convidados.

Já o projeto “Luz e LIBRAS: uma integração entre o universo da fotografia e da surdez” foi aprovado pelo edital de Arte e Cultura da Pró-Reitoria de Extensão da UFPA (Proex) em 2011 e teve como objetivo desenvolver ações, tais como oficinas e minicursos de fotografia e outras linguagens artísticas para pessoas surdas da comunidade de Soure, de modo a auxiliá-las em seu processo de inclusão no meio social. Por meio do conhecimento sobre a linguagem fotográfica e sobre outros meios de expressão, os alunos surdos participantes do projeto puderam articular conhecimentos e ampliar suas possibilidades de comunicação e consequente integração com o mundo dos ouvintes.

Pós-graduação – No período de 2011 a 2012, o Campus do Marajó-Soure contou, inclusive, com um curso de pós-graduação lato sensu na área, que proporcionou a especialização de mais de 30 profissionais em “Estudos da Linguagem aplicados à Educação de Surdos”. A meta é reabrir a segunda turma em Belém, a partir de 2014. Um total de 50 vagas será ofertado com o objetivo de formar profissionais que compreendam a pessoa surda como um todo e, também, a linguagem de maneira menos cartesiana. Durante os 18 meses de curso, os alunos estudam as diversas modalidades da linguagem que podem ser aplicadas na educação de pessoas surdas e com uma carga horária destinada ao ensino da Libras

Fonte: http://www.portal.ufpa.br/imprensa/noticia.php?cod=8171

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