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dificuldade primordial se torna inspiração para o trabalho de uma vida. Surdo, o professor com nome de ator — o americano Peter Falk, cego de um olho — ensina a Língua Brasileira de Sinais (Libras) a alunos ouvintes e lança para longe as barreiras da comunicação. O mais recente gesto da luta pela igualdade de direitos é feito, hoje, quando ele defende a dissertação de mestrado em educação, pela Universidade Católica de Brasília (UCB). No DF, Falk é o primeiro aluno surdo da área a tentar o título de mestre e pretende, com o projeto, mostrar que basta uma oportunidade para que profissionais como ele mostrem a capacidade que têm.

Nascido em uma família de ouvintes, Falk desenvolveu surdez bilateral profunda quando tinha um ano e sete meses. A meningite que consumiu seu aparelho auditivo não foi capaz de calar sua força de vontade. Estudante em um período em que as famílias eram orientadas a não ensinar Libras aos filhos surdos, ele encarou a escola regular e as aulas ministradas por meio da fala. Ele fazia leitura labial e pedia para que os colegas emprestassem os cadernos para que ele completasse as lacunas deixadas pela educação vocalizada. “Era muito difícil porque eu tinha que ler o que o professor dizia e não conseguia copiar. Ou copiava e perdia o que ele estava explicando”, lembra. Falk concluiu o ensino técnico em contabilidade, com menção honrosa. Os obstáculos da aprendizagem, ao longo de toda a vida o incentivaram, anos mais tarde, a estudar pedagogia e a desenvolver a didática que aplica em sala de aula, desde 2008, quando entrou na UCB.

A dissertação que produziu investiga as aplicações e os efeitos das políticas públicas de inclusão e o cotidiano de cinco professores surdos na educação superior. São histórias de enfrentamento do preconceito, da subvalorização profissional e pessoal. Ele também questiona o modelo neoliberal nesse processo e batalha pelo respeito e pela noção de cidadania que os docentes têm direito. Dito de forma menos técnica, o objetivo de Falk é incentivar o conhecimento e afirmar, categoricamente, que as adaptações para garantir a acessibilidade são necessárias e possíveis. “Quero que os surdos se sintam estimulados a estudar. Minha proposta mostra que somos viáveis, que somos capazes. Basta dar uma brecha para que a gente escancare tudo”, define. Ele compõe um grupo que soma cerca de 50 mil pessoas deficientes auditivas, somente no DF, e que são silenciadas pela falta de acessibilidade em todos os setores.

Fonte:http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2014/08/15/interna_cidadesdf,442442/surdo-professor-defende-didatica-inclusiva-em-dissertacao-de-mestrado.shtml

 

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