Noticia_20140730-2-1_ImagemFalk Moreira é professor surdo da Língua Brasileira de Sinais (Libras) há oito anos “Somos surdos porque temos uma deficiência na audição e não somos mudos porque nós temos a Língua Brasileira de Sinais (Libras)”, afirma o professor Falk Moreira, esclarecendo como o surdo deve ser compreendido pela sociedade. No mês passado, ele passou em primeiro lugar no concurso para professor de Libras do Instituto Federal de Brasília (IFB). Em 2008, ele foi o primeiro professor surdo dessa disciplina na Universidade Católica de Brasília (UCB). Dois anos depois, o primeiro estudante surdo do curso de Mestrado em Educação, inicialmente, como aluno especial. Em agosto deste ano, está prevista a defesa de sua dissertação.

Noticia_20140730-2-2_Imagem“No processo de inclusão da sociedade, o surdo vem ganhando cada vez mais espaço”, observa Falk. “Com o passar do tempo, fui me mostrando, me adaptando, me esforçando para dar aula e acabei me tornando um bom professor”. Com isso, “tornei-me um exemplo” por ser surdo, trabalhar, ter experiência e uma boa didática para dar aula. Ele recebe muitos convites para falar sobre as suas experiências de vida. Nesses encontros, as pessoas se surpreendem por ele ser professor, ter experiência e uma boa didática para dar aula.

A carreira

Noticia_20140730-2-3_ImagemA carreira de professor universitário de Libras começou em 2006, ano em que se formou em Pedagogia. Em 2010, concluiu o curso de Letras-Libras e também a especialização em Docência do Ensino Superior. Nesse mesmo ano, entrou como aluno especial do Mestrado em Educação da UCB, passando a ser aluno regular em 2012. “Eu fui o primeiro estudante surdo da Católica no mestrado, no Programa de Educação”, ressalta.

No próximo mês de agosto está prevista a defesa de sua dissertação, intitulada “História de vida e concepção de professores surdos universitários acerca das políticas de inclusão”. Com o estudo, Falk pretende mostrar “o processo histórico do surdo, as lutas e as conquistas”, acrescentando relatos de vida e o que mudou desde a Lei 10.436/2002, que reconheceu a Língua Brasileira de Sinais, e a regulamentação pelo Decreto 5.626/2005, que obriga o ensino de Libras no ensino superior para os cursos de licenciatura e para a educação básica.

O início na Católica

Noticia_20140730-2-4_Imagem Noticia_20140730-2-4_ImagemO ensino de Libras na Católica iniciou com a professora ouvinte Patrícia Tuxi em 2008. “Ela conversou com a Reitoria sobre a importância de ter um professor surdo, conhecedor da Língua Brasileira de Sinais, o que facilita muito o contato com os estudantes ouvintes”, explica Falk. Ele lembra que, na época, o coordenador do curso de Letras reconheceu isso, o contratou e propôs o modelo pedagógico da disciplina com dois professores, um ouvinte na aula teórica e um surdo na aula prática. Depois que a Patrícia saiu da Católica, a professora Layane Santos foi contratada e, com a ampliação da oferta de Libras, a professora Valícia Gomes reforçou a equipe em 2011.

Duas turmas presenciais de graduação têm aulas de Libras simultaneamente. “Enquanto uma turma está tendo aula prática, a outra está na aula teórica. E, na hora do intervalo, a gente troca. O professor que ministra a aula teórica vai para a outra turma que teve aula prática como se fosse uma turma espelhada. São duas salas, as turmas têm, mais ou menos, 40 estudantes”, descreve Falk, que ministra as aulas práticas. No primeiro semestre de 2014, houve 12 turmas presenciais de Libras e seis virtuais.

Concurso

O concurso para professor de Libras do Instituto Federal de Brasília (IFB) teve 18 candidatos, sendo cinco surdos e 13 ouvintes. “O candidato precisava dominar a Língua Brasileira de Sinais e o processo pedagógico. Teve uma prova teórica e depois a prova prática de desempenho didático, que é a mais importante para avaliar se o candidato sabe ou não a Língua Brasileira de Sinais, se ele tem conhecimento e fluência”, detalha Falk, que foi aprovado em primeiro lugar em todas as fases.

Segundo ele, “os surdos que fizeram o concurso são pessoas que não escutam, utilizam a Língua Brasileira de Sinais, são formados em Letras Libras, e já têm conhecimento didático e conseguiram passar. Ouvintes são pessoas falantes e que escutam”. O professor da UCB destaca que o surdo enfrenta muita dificuldade nas provas devido ao português escrito. “A língua portuguesa ainda é um desafio. A gente compreende, mas é um desafio”, revela.

Falk é um professor muito querido pelos estudantes da UCB. Ele tem mais de 5 mil amigos em seu perfil no Facebook. Por semestre, são de 800 a 1.200 estudantes na disciplina. “Eu gosto muito de trabalhar aqui. Na verdade, eu amo a Católica”, disse emocionado. Para quem pensa que, por ter passado no concurso do IFB, o docente está de saída da Universidade, ele dá um recado. “Eu não quero deixar a Universidade Católica”.

Mario Vinicius Costa

Fonte: http://www.ucb.br/Noticias/2/5767/ProfessorDeLibrasDaCatolicaPassaEm1LugarNoConcurso/

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