Por Alenita Ramirez

O autônomo Ademir Luís Amaral, de 34 anos, de Sumaré, decidiu chegar ao extremo para chamar a atenção das autoridades. Pai de Nicole Nilda dos Santos Panzeri Amaral, de 9 anos, que é surda e cursa a 3ª série do ensino fundamental na Escola Estadual Wanda Felix de Andrade, no Parque Bandeirantes, em Sumaré, ele decidiu “acampar” desde a tarde de anteontem em frente a Secretaria Estadual de Educação, em São Paulo. Amaral quer a implantação na rede pública o ensino de educação bilíngue de Libras para surdos, com professores intérpretes especializados e formados em nível de graduação.

Mesmo tendo intérprete na escola, Nicole foi considerada, por especialistas na área de educação para surdos, como analfabeta, já que a professora não estaria sabendo transmitir os conteúdos para a garota. “É um ato de desespero. Minha filha está sofrendo um dano psicológico. Não quer ir mais na escola, pois não sabe se ela é surda. Ela já não sabe mais o que é. Vou ficar aqui até que alguém me atenda e me dê uma solução” , disse.

Amaral disse que tomou a medida depois que buscou ajuda do município, do Ministério Público (MP) e do estado.

Outro lado

Em nota, a Diretoria Regional de Ensino de Sumaré informou que está à disposição da aluna um professor interlocutor de libras em sala de aula, além de atendimento educacional especializado na sala de recursos e que os docentes são qualificados para as funções e comprometidos com o trabalho. “Além disso, a DE disponibiliza transporte escolar, tanto para a sala regular como para a sala de recursos. É importante esclarecer que a ausência da estudante na escola, desde o mês de agosto, foi comunicada ao Conselho Tutelar e à Promotoria de Justiça do município de Sumaré” , frisou em ofício.

Já o promotor pública da Infância e Juventude, de Sumaré, Denis Henrique Silva, disse que já está em andamento um procedimento para apurar o caso. “Todas as escolas têm intérpretes e existe uma resolução na área de educação que diz sobre a qualificação deste profissional. O que fiz foi uma tutela coletiva, para verificar como é feito o recrutamento dos profissionais intérpretes. No entanto, essa questão não se resolve de forma rápida, demanda tempo” , disse o magistrado.

De acordo o promotor, existem outras ações semelhantes em andamento, no entanto, ao contrário de Nicole, nos outros casos, as crianças não são alfabetizadas em libras.

Ademir pede ao MP para que os intérpretes contratados pelo ensino público, sejam submetidos a avaliação da Federação dos Surdos.

O caso

Nicole nasceu surda e aos dois anos fez implante coclear, mas não teve sucesso, mesmo estudando em escola especializada para implantados. Em 2016, então com sete anos, a menina foi estudar em uma escolinha municipal para fazer a alfabetização e em outubro daquele ano, a coordenação da escola orientou aos pais que procurassem uma escola de libras, para que Nicole aprendesse a linguagem de sinais. Como a família foi orientada pela equipe de implantação, para não ensinar Nicole essa linguagem, Amaral ficou dividido, mas, mesmo assim, buscou uma escola particular em Campinas e toda a família apreendeu a linguagem. Nicole, segundo Amaral, foi a que mais ficou empolgada no primeiro dia de aula, já que conseguiu se comunicar com as pessoas.

Além da escola particular de Libras, Nicole passou a ser atendida por especialistas da Unicamp, duas vezes por semana.

No ano passado, ela ingressou na rede pública estadual, na segunda série, na escola Vanda Felix de Andrade, e foi aí que começou o drama da família. Segundo Amaral, no primeiro ano na escola, uma professora alegou que a menina ouvia e que deveria estimular a audição dela. Preocupado, o autônomo buscou ajuda de diversos especialistas em surdez que o garantiram que Nicole não ouvia, mesmo com o implante. Aliás, ela ouve sons robóticos que não sabe interpretar e que a incomodam. Nicole chegou a ficar um mês sem interprete e uma das professoras de Libras, segundo o pai, costumava chegar atrasada na sala de aula. Neste ano também começou o ano letivo sem um especialista.

Para piorar a situação, em junho deste ano, Amaral foi em uma reunião na escola e viu que havia um bilhete de recomendação da professora na agenda da filha no qual pedia que menina fizesse leitura em voz alta para ela se ouvir e ir treinando a fala. Além disso ele também viu que a professora fez anotações em vermelho nas provas da filha e constatou que as atividades da garota eram as mesmas passadas para os demais colegas de sala de aula.

No segundo semestre, Amaral decidiu radicalizar para ver se comovia a direção da escola e os órgãos públicos. No primeiro dia de aula, levou a filha e perguntou se havia intérprete, como a resposta foi negativa, não deixou a filha ficar e foi na delegacia e fez boletim de ocorrência. O autônomo repetiu a ação por mais dois dias, até ser chamado pelo delegado. “O delegado me disse que não poderia fazer isso todos os dias, pois assim ele não podia dar andamento no inquérito, já que todos dias teria que fazer adendo. Então me pediu para ir ao MP” , falou.

Fonte: http://correio.rac.com.br/mobile/2018/10/

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