Edio tenta há uma semana se matricular em universidade

Há uma semana, um casal campo-grandense vive drama na tentativa de conseguir matrícula em curso de mestrado oferecido por universidade paulista. Todo o problema acontece por Edio Tadeu Leite, de 41 anos, ser surdo. Ele, inclusive, é o primeiro professor surdo do Brasil a lecionar para alunos ouvintes. Até a Polícia Civil de São Paulo já foi acionada, mas o caso segue sem desfecho.

Esposa de Edio, a também professora e intérprete Alice do Nascimento, de 32 anos, conta que o marido é formado em Educação Física e foi o primeiro surdo do Brasil a ser aprovado em concurso público para dar aula a alunos regulares.

Edio já trabalhou em escola de São Gabriel do Oeste e atualmente é concurso como técnico da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e convocado como instrutor de paratletismo na prefeitura de Campo Grande.

Com objetivo de melhorar a formação profissional, Edio e a família se programavam para que ele entrasse no curso de Mestrado Profissional em Educação da Unasp (Centro Universitário Adventista de São Paulo). O curso seria praticamente à distância e Edio ficaria apenas duas semanas por ano na cidade de Engenheiro Coelho, que fica a quase 900 quilômetros da Capital.

A viagem de Edio, a esposa e o filho para o interior paulista aconteceu na segunda-feira (24). Em razão da família ser adventista, o combinado era que todos passariam a noite nas dependências da universidade, a um custo definido por telefone. Quando chegaram na cidade, Edio e a família tiveram a surpresa de não conseguir efetuar a matrícula.

“Levamos todos os documentos e fomos maltratados quando souberam que meu marido era surdo. Pedimos que fosse cumprida a lei de acessibilidade, que define a obrigação de acessibilidade predial e comunicacional em todo local que possua alvará, incluindo as instituições de ensino”.

Com a negativa do setor de matrícula, Alice e o marido procuraram a reitoria da universidade para que o problema fosse resolvido, mas nada feito. Os dois decidiram, então, ir até delegacia da cidade para registrar o caso.

O descaso da universidade foi registrado como discriminação contra pessoa com deficiência e assinado pelo delegado paulista Robson Gonçalves de Oliveira. Da delegacia, a família seguiu para um hotel e, chegando lá, foi procurada pelo reitor da Unasp. “Ele disse que ia resolver o problema e autorizou a matrícula do meu marido”, conta Alice.

No dia seguinte, mais uma vez frustração. Apesar da conversa com o reitor, a matrícula não foi feita e a negativa da universidade se dava em razão de não haver intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) na faculdade.

Alice, o marido e o filho voltaram para Campo Grande e chegaram a procurar a Associação Adventista, que até agora não conseguiu resolver o impasse. A reportagem procurou a Unasp por telefone e email, mas nenhum retorno foi dado até a publicação desta matéria.

Legislação

De acordo com a norma brasileira em vigor desde 2004, todo estabelecimento que possui alvará precisa cumprir normas de acessibilidade tanto prediais quanto comunicacionais.

No caso das universidades, além do acesso físico dos espaços, intérpretes precisam ser colocados à disposição caso algum aluno surdo se matricule na instituição. Apesar de ser regra e o descumprimento classificado como discriminação, nem todas universidades do Brasil praticam a inclusão.

Outro lado

​À reportagem, a universidade enviou a seguinte nota:

O Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) informa que a inscrição do processo seletivo no Mestrado Profissional em Educação não foi efetivada pelo professor Edio Tadeu Leite no período correspondente ao edital público, o qual se encerrou no dia 31 de julho do corrente ano. Segundo o Estatuto do Deficiente, Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, toda a instituição de Ensino Superior deve colocar à disposição um tradutor e intérprete de Libras desde que o aluno tenha efetivado sua matrícula, o que não fora feito pelo referido concorrente. O processo seletivo ao Mestrado Profissional pode ser feito por qualquer pretendente, por meio da plataforma digital e o pagamento da taxa de inscrição. Sobre o boletim de ocorrência, o Unasp lamenta a alegação, no entanto ressalta que não há registro de maus tratamentos por parte dos colaboradores da instituição ao casal, atendendo-os com hospedagem gratuita, bem como com a devida acessibilidade necessária à documentação, ao corpo de funcionários e as dependências utilizadas no campus. O Unasp promove a acessibilidade mantendo em sua estrutura funcionários com necessidades especiais (inclusive com deficiência auditiva), curso livre na área de Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) e um Coral de Libras, além de outras formas de inclusão.

Fonte: http://www.midiamax.com.br/

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