Noticia_20160509-2A_ImagemO sorriso tá sempre no rosto e já foi um apelido. A disposição e força para fazer o bem vem de uma triste infância, superada com muito esforço e dedicação. O material de trabalho, grande parte, vem do lixo. É assim que Satiro Santos, 50, ou Tio Baleia, como é conhecido desde criança, leva a vida. Ele é gari há 14 anos, mas além disso é artista plástico, poeta, oficineiro, eletricista técnico, “muito avaiano” e uma pessoa apaixonada por tudo que faz.

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Há cinco anos, Satiro promove uma oficina para as crianças da Escola Básica Adotiva Liberato Valentim, na Costeira do Pirajubaé, na Capital, com o material reciclado que recolhe nas ruas. Tio Baleia faz a coleta nos caminhões da Comcap, depois volta à cooperativa para selecionar o material que pode reutilizar.

Presente para as mães

Noticia_20160509-2B_ImagemAtentos a todas as explicações, os pequenos capricham na produção e se orgulham na hora de apresentar os trabalhos. Na última sexta-feira, Luan Veloso Nascimento, 8 anos, que tem Síndrome de Down, estava todo orgulhoso com o presente que fez para o Dia das Mães, um caderninho de anotações. Ele pintou o envelope improvisado pela professora Elaine Hubschet, porque ele ama pintar, e disse que também adora as aulas do Tio Baleia. Luan foi um dos primeiros a terminar a tarefa.

Nas cadeiras ao lado estavam os primos _ eles se dizem primos porque os nomes começam com a mesma letra _ Vitor Gabriel Alves, 8 anos, e Vinicius Angelo Ferreira, 10, que entre uma brincadeira e outra tentavam fazer o trabalho de recortar e colar, que é o que mais gostam, para finalizar o presente da mãe. 

_ Vitor, é assim que sua mãe faz as coisas para você? É esse o presente que você quer dar pra ela? Então, capricha e, se não souber, pergunte, porque eu tô aqui para ajudar _ chamou a atenção Tio Baleia, pacientemente, ao ver que a falta de atenção estava prejudicando o andamento da atividade. Depois disto, não demorou muito e a frase “Mãe, eu te amo” já estava escrita com tiras de papel e um coração em cima do caderninho reciclado, feito com folhas antigas de um calendário que iriam para o lixo.  

O convite para a oficina partiu da diretora da escola, Carla Christine Hermans, que viu a oportunidade de homenagear um artista local _ Tio Baleia sempre foi conhecido na região por fazer mosaicos _ e ainda promover a sustentabilidade entre os alunos.

_ O Baleia é um grande parceiro da escola e nunca está de mal humor. Ele se envolve em tudo que promovemos aqui e, às vezes, recorremos a ele para conversar com as crianças _ disse a diretora. São cerca de 150 crianças que participam das atividades da oficina, três vezes por semana e em dois turnos. De manhã, Tio Baleia trabalha sozinho. À tarde, ele tem alguém que o ajuda e, volta e meia, filhos e netos também vão dar uma mão.

Noticia_20160509-2C_ImagemA história do Tio Baleia poderia facilmente se confundir com a de qualquer uma daquelas crianças que participam de suas oficinas. Órfão ainda criança, perdeu o pai por um problema cardíaco e a mãe para uma tuberculose, doença que ele também contraiu e que o obrigou a sair da escola. Depois de curado, não pode retomar os estudos porque precisava trabalhar para ajudar no sustento de casa. Satiro foi criado por uma tia e uma irmã. Aos nove anos começou lavando carros, aos 14 era office boy e aprendeu a fazer seus mosaicos quando trabalhou na construção civil. Começou aos poucos, fazendo quadros do Avaí, depois foi progredindo e hoje não dá conta das encomendas que recebe. 

Casado há 30 anos, ele tem cinco filhos e cinco netos. Em casa, tem um ateliê, o que, segundo ele, facilita a vida. Pelo menos três vezes na semana a correria é grande. Ele sai da escola, veste-se no caminho mesmo, e vai direto para a Comcap. O motivo de tanto esforço?

_ Quero dar a essas crianças uma oportunidade que eu mesmo não tive na infância. É um gesto, uma palavra de carinho que, às vezes, eles não têm em casa _ explicou.

Sobre o trabalho de conscientização, Satiro tem certeza que está fazendo a diferença, e usa uma frase que sempre diz ao filho para explicar.

_ Eu sempre digo “filho, você nunca se perde por fazer o bem. O importante é fazermos o nosso papel”.

Dificuldades no trabalho

Foto DNa sua profissão, Satiro confessa passar por dificuldades. A primeira delas é a falta de mais cooperativas para doar o material reciclável. Tudo tem que ser encaminhado para uma única. 

Também há a falta de conscientização da população, que não separa o lixo adequadamente.

_ A gente pega uma sacola enorme de material para a coleta seletiva que, às vezes, tem uma outra de comida esquecida lá dentro. Aí, depois de um tempo, já não presta mais nada para uso _ explicou, acrescentando ainda que a má armazenagem do material o fez se cortar algumas vezes. A orientação dele é para que, no caso de cacos de vidro, eles sejam enrolados em um papel e colocados em uma sacola separada, para que os garis possam identificar.

Satiro também faz um trabalho de conscientização com as crianças, mas confessa que lhe falta algo para continuar: “tempo, porque energia tenho de sobra”.

E fecha a entrevista com um de seus poemas: “Estou aqui com meu sorriso e o meu talento para aliviar o teu sofrimento”.

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Fontedc.clicrbs

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