22/02/2016

Surdos procuram fazer ensino superior para ajudar outras pessoas na mesma situação a se inserirem no mercado de trabalho

Noticia_20160318-1_ImagemApós mudanças na legislação realizada ao longo dos últimos 14 anos, a comunidade surda está escrevendo um novo capítulo na história da comunidade não ouvinte no País: o avanço da educação inclusiva. Agora, os surdos buscam cada vez o ensino superior para, através da capacitação, ajudar outros não ouvintes a vencer barreiras e se inserir, de forma plena, no mercado de trabalho e na sociedade.

“Antes, o surdo não tinha acesso às instituições e ao ensino superior. Hoje, com direitos conquistados, a comunidade surda está tentando participar dos espaços que são possíveis na sociedade. Queremos nos desenvolver por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras), que é a nossa base, para vencer na vida e mostrar que somos igualmente capazes”, diz Diego Leonardo Pereira Vaz, 31. Formado em Letras-Libras, ele foi aprovado recentemente em um concurso do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG).

Para o professor, quando as políticas públicas tiveram um olhar diferenciado para a comunidade surda, ela surpreendeu como detentora de direitos, lutando pela sua cidadania e conquistando seu espaço, mas ainda falta muito até uma inclusão ampla. “Futuramente, com a melhoria do acesso às instituições de ensino, a conquista de novos lugares na sociedade será possível para todos os surdos, e não só para alguns, como ocorre hoje”, diz.

Diego é professor do curso de Pedagogia Bilíngue Libras-Português, oferecido pelo IFG no Câmpus Aparecida de Goiânia. A nova modalidade de licenciatura é comemorada tanto por educadores quanto pela comunidade surda. Em seu segundo ano de funcionamento, o curso registrou aumento no número de alunos não ouvintes matriculados, saindo de uma estudante em 2015 para sete, em 2016.

A coordenadora do curso de Pedagia Bilíngue do IFG, Waléria Vaz, explica que, até 2014, havia nas universidades e no instituto federal apenas o curso de licenciatura em Letras-Libras, uma formação para dar aulas em Língua Brasileira de Sinais. Mas esse licenciado só pode trabalhar no ensino médio ou superior, deixando um vácuo na educação infantil e no ensino fundamental.

Pelas diretrizes do Ministério da Educação, o educador que trabalha no ensino infantil e fundamental deve ser formado em Pedagogia. No caso da criança surda, a figura desse educador não existia. “Os profissionais que saiam das universidades não saiam prontos para lidar com a criança em uma perspectiva bilíngue na língua materna delas”, explica Waléria.

Além do objetivo principal do curso, que é formar profissionais capacitados a lidar com as diferenças e as necessidades do deficiente auditivo na educação infantil, outro diferencial é a inserção de pessoas não ouvintes no mercado de trabalho. Pedagogia Bilíngue possui uma cota de 30% das vagas para candidatos com deficiência auditiva.

Waléria explica que ampliação do acesso dos surdos à educação teve início em 2002, com o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais, que faz o uso de gestos e sinais em vez de sons, como meio legal de comunicação e expressão. Casada com um surdo, a coordenadora diz que, até então, os deficientes auditivos tinham diversas privações.

Nos anos seguintes vieram outras vitórias importantes: Libras foi reconhecida como língua materna dos não ouvintes brasileiros; se tornou a segunda língua oficial do País; passou a fazer parte do currículo obrigatório dos cursos de licenciaturas e fonoaudiologia; e, por fim, os surdos ganharam o direito de ter intérpretes nas escolas públicas, universidades e institutos federais. Com isso, essa parcela da população teve garantido o direito a cursar normalmente as escolas, faculdades e assim por diante.

Fonte: http://www.opopular.com.br/

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