Noticia_20160316-1_ImagemUma importante contribuição no campo da produção acadêmica e para a inclusão social. Desta forma os participantes da sessão de defesa de dissertação de Priscila Aparecida Moraes Henkemaier Xavier avaliam o trabalho que ela desenvolveu durante o curso de Mestrado em Estudos de Linguagem (Meel) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A defesa, realizada na manhã desta sexta-feira (09) no Instituto de Linguagens, reuniu estudantes, professores e familiares da primeira aluna surda a defender uma dissertação de mestrado na UFMT. 

Em sua trajetória, Priscila traz também o pioneirismo de ter sido aluna da primeira turma de graduação em Letras – Libras no Brasil, oferecida pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Sua pesquisa aponta que ambientes virtuais são ricos para o surdo aprender a segunda língua, devido à característica visual.

“A ostra se abriu: percepções de alunos surdos sobre seu processo de aprendizagem de língua inglesa em um curso a distância” é o tema do estudo realizado sob a orientação do professor Dánie Marcelo de Jesus, e que teve como banca examinadora as professoras Claudia Hilsdorf Rocha, da Universidade de Campinas (Unicamp) e Tatiana Wonsik Recompenza Joseph, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O orientador sublinhou o momento como um marco nas defesas de pós-graduação na UFMT, devido à mediação de duas linguagens – Português e Libras. Priscila Xavier afirma em sua dissertação que “a educação dos surdos tem se transformado significativamente nos últimos trinta anos, com conquistas fundamentais, entre elas a aceitação do bilinguismo como a condição ideal para a efetivação da formação do surdo”. Com os seus estudos ela buscou oportunizar, também, o aprendizado de um outro idioma, o inglês, aproveitando as novas tecnologias, que facilitam a comunicação devido ao abundante uso de imagens. 

No relato de sua pesquisa ela utilizou a analogia da concha, que recebe um grão de areia, uma pequena peça, transforma-a em uma valiosa pérola e abre-se. Assim é o processo de formação, partindo do enfrentamento das barreiras da vida e chegando ao aprendizado. Seu trabalho abrange estudos culturais e linguísticos; aborda questões relacionadas aos professores surdos e ouvintes, os avanços das tecnologias, interesses profissionais e multiletramentos e letramentos críticos.

A mestranda, que é professora de Letras-Libras da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em Sinop, buscou compreender o sentido da linguagem estrangeira para a comunidade surda e como desenvolver estratégias de ensino-aprendizagem. Utilizou as redes sociais como ferramentas, por serem amplamente utilizadas pelas pessoas com deficiência auditiva. Para ela, o letramento precisa envolver os aspectos cultural e linguístico, as percepções, fundamentais para a autonomia, e o aprendizado tecnológico. Ela considera o multiletramento essencial para os alunos surdos e apresenta o que chama de “forma viso espacial”, como modo ideal nesse processo, por abarcar aspectos como a identidade, a mídia, o visual, o cultural, a comunicação, a tecnologia e a globalização. O multiletramento associado ao letramento crítico permite “ampliar o pensamento crítico dos alunos, entreabrindo espaço para reflexões sobre si próprios e sobre o mundo em que vivem”.

O trabalho objetivou também “analisar quais são os sentidos produzidos por um grupo de alunos surdos em um curso de inglês na modalidade a distância, inserindo, nesta análise, discussões sobre ensino de língua estrangeira para surdos e a modalidade de ensino propriamente dita”. Para tanto foi feita pesquisa qualitativa mediante entrevistas aplicadas utilizando-se o Facebook, onde era feita a comunicação na forma escrita, postadas ilustrações e vídeos em linguagem de sinais brasileira e na língua inglesa. Contatou-se que para a maioria a identidade, a estrutura linguística é visual e que os ambientes virtuais são ricos para o surdo aprender a segunda língua, nesse caso, o inglês (a primeira língua é a de sinais). 

Uma das participantes da sessão de defesa, a estudante do sexto semestre de Psicologia da UFMT Camila Rodrigues, considera essa primeira defesa “um importante passo no que diz respeito à cultura surda e um estímulo para que cada vez mais as pessoas surdas venham para a universidade”. Para ela ainda há impasses em relação à acessibilidade a serem discutidos, mas é um avanço a UFMT ter também o curso de graduação em Libras. Especificamente, seu interesse é entender melhor essa linguagem, que já conhecia antes de ingressar no ensino superior. “Agora quero saber como posso contribuir de forma mais direta na minha profissão.

Fonte: http://www.ufmt.br/ufmt/

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