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De acordo com dados do Censo Demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de dois milhões de pessoas no Brasil são portadoras de deficiência auditiva severa. Destas, cerca de 400 mil apresentam surdez profunda, um grau alto de surdez, em que não se ouve quase nada, nem com o uso de um aparelho auditivo. De acordo com Vivian Rumjanek, Cientista do Nosso Estado da FAPERJ e pesquisadora da área de imunologia e oncobiologia do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por não terem acesso a nenhum som, pessoas com esse tipo de surdez geralmente apresentam grande dificuldade com a língua escrita, o que os põe à margem do processo educacional.

“O IBqM promove, há muitos anos, em seus laboratórios, cursos de férias, com oficinas de biociências, voltadas para alunos do ensino médio e fundamental. Depois de algum tempo, resolvi estender o programa a jovens e adolescentes com surdez profunda. Foi quando me deparei com a dificuldade que eles podem ter durante a aprendizagem e percebi que muitas palavras do vocabulário científico e vocábulos mais específicos não estavam presentes na Língua Brasileira de Sinais [Libras]”, explica Vivian.

Foi com base nessa experiência que a pesquisadora, junto a uma equipe de graduandos, mestrandos e doutorandos da universidade, começou a desenvolver atividades para promover a inclusão desses jovens nas áreas científica e tecnológica. Fundou, então, o Projeto Surdos, na UFRJ, que conta com subsídios da FAPERJ em diversas de suas ações. O projeto A inclusão do surdo na sociedade atual através do conhecimento científico é uma delas, tendo sido contemplada pelo edital Apoio à Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia no Estado do Rio de Janeiro.

Os cursos para jovens surdos, realizados duas vezes por ano nos laboratórios do IBqM ou em escolas públicas e museus, têm uma semana de duração e são dirigidos para alunos, instrutores e professores do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines) e de outras instituições. Nesses cursos, que contam com a presença de três intérpretes de Libras, as aulas não são formais e os alunos participam ativamente, sugerindo as perguntas que serão respondidas por meio de experimentos, por exemplo, como abordar os temas apresentados, que podem ser um aprofundamento de como ocorre a coagulação do sangue ou uma explicação sobre o que é a hemofilia.

Noticia_20150723-1B_ImagemBuscamos oferecer ao jovem surdo a possibilidade de integrar-se aos avanços da ciência e da tecnologia, aprendendo conceitos científicos com quem faz ciência, desenvolvendo o método e o pensamento científico em vez de simplesmente receber informações”, diz a pesquisadora. Os alunos que mais se destacam nos cursos de férias ganham estágios de seis meses, que podem ser renovados por igual período de tempo. No entanto, muitos ex-estagiários continuam frequentando o laboratório e se engajando em atividades desenvolvidas no Laboratório Didático de Ciências para Surdos (Ladics) do IBqM.

No escopo do projeto, também está incluída a criação, em Libras, de um glossário científico e tecnológico. “Como qualquer língua é resultado de um processo criativo em que a necessidade leva ao desenvolvimento de novos termos, a exclusão dos surdos profundos do sistema de ciência e tecnologia, que vem se desenvolvendo com extraordinária rapidez no País, fez com que Libras ficasse deficitária na terminologia científica. Essa atualização é primordial para que os estudantes surdos possam ser incluídos no mercado de trabalho nessa área”, explica Vivian.

A cada novo curso envolvendo um tema diferente, novas demandas de terminologia são observadas, a partir da necessidade de utilização de termos para descrever aparelhos, fenômenos, órgãos, em atividades científicas e tecnológicas. No decorrer desses cursos, a forma como os alunos surdos captam, interpretam e passam a desenvolver e utilizar novos sinais não existentes em Libras é percebida pelos monitores e intérpretes. “Por exemplo, durante o curso de férias de 2006 surgiu um novo sinal em Libras para significar radioatividade que foi rapidamente aceito e absorvido pelos surdos, da mesma forma como foi criado um novo sinal para definir uma centrífuga”. Todas essas novas palavras na linguagem de sinais são filmadas e catalogadas em DVDs e utilizadas nos cursos seguintes. Os DVDs são distribuídos gratuitamente e podem ser solicitados na página do grupo no facebook: www.facebook.com/ProjetoSurdos.

Noticia_20150723-1C_ImagemAlém dessas atividades, o projeto também procura integrar esses jovens ao mercado, formando mediadores surdos para museus de ciência e tecnologia. Esse trabalho foi realizado em parceria com o Museu da Vida, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e também com o Museu Ciência e Vida, da Fundação Cecierj, em que dois mediadores surdos já foram formados. “Além de integrá-los ainda mais às informações, o projeto vai estimular a visita de pessoas com surdez a museus de ciência”, diz. “Em uma reunião realizada pelo projeto na Casa da Ciência da UFRJ, em 2014, envolvendo vários museus no Rio de Janeiro, foi possível verificar que não há nessas instituições acessibilidade que promova a participação de pessoas surdas. Muitos nos pediram sugestões de mudanças para melhorar nesse aspecto” diz a pesquisadora.

A preocupação na inclusão, no entanto, não está somente restrita no que tange à ciência e à tecnologia. Para que as pessoas surdas possam ficar por dentro das principais notícias do Brasil e do mundo, foi criada a página Surdonews, em que dois integrantes do projeto da UFRJ interpretam e comentam os assuntos que tiveram maior destaque na imprensa durante a semana, como foi o caso da questão da redução da maioridade penal, por exemplo. A página (https://www.facebook.com/surdonews) está funcionando no Facebook desde fevereiro de 2014.

Em comemoração aos 10 anos do projeto Surdos da UFRJ acontecerá, entre os dias 3 e 5 de agosto, o simpósio Caminhos da Inclusão: Saberes Científicos e Tecnológicos. Sua Importância para o Desenvolvimento do Indivíduo Surdo. Mais informações no site: http://bit.ly/1C3egOD

Fonte:http://www.faperj.br/

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