Atividade é realizada na escola Marina Barcellos, em Vila Velha.
Famílias e professores dizem que contato melhorou após início das aulas
Do G1 ES, com informações da TV Gazeta
A necessidade de promover uma comunicação eficaz entre estudantes com deficiência auditiva e ouvintes fez com que uma escola municipal de Vila Velha, na Grande Vitória, decidisse abrir as suas portas aos sábados para ensinar a Língua Brasileira Sinais (Libras) a estudantes, professores, funcionários da unidade de educação e comunidade. Com a utilização de diversas atividades, incluindo exercícios com música, os participantes do projeto ‘Libras: ouvindo e aprendendo a cultura surda’ contam que os resultados positivos já podem ser sentidos dentro da sala de aula e de casa.
Atualmente a escola Marina Barcellos, localizada no bairro Araçás, possui quatro estudantes deficientes auditivos, com idades de oito e 11 anos. De acordo com o professor Valdeir dos Santos, responsável pela iniciativa, a ideia surgiu ao perceber a dificuldade que os alunos que não ouviam tinham para estabelecer contato com as demais pessoas. “Quando eu comecei a trabalhar na escola, eu percebi que as famílias não sabiam Libras para se comunicar com as crianças em casa. E não adianta só o aluno aprender na escola. Então nós estamos disseminando a Libras para facilitar essa comunicação”, declarou.
A ação ganhou apoio e integrantes, incluindo a diretora da escola, Roseliene Vionet. Ela é uma das profissionais da escola que decidiu aprender a linguagem de sinais para melhor entender as prioridades de cada estudante. “Quando essas crianças começaram a chegar, nós começamos a sentir essa necessidade. Elas chegavam perto da gente segurando as roupas íntimas e a gente achava que era vontade de ir ao banheiro, mas era fome, porque a barriga doía”, relembra a educadora.
A diretora também explicou a necessidade de abrir a atividade para os pais. “Porque eles ensinaram o que eles entendiam ser certo, mas hoje eles já não entendiam mais. Hoje todos nós viemos para o projeto, porque os professores, as crianças e os moradores sentem essa necessidade”, disse.
Para as professoras que mantêm contato todos os dias com esses estudantes, os pontos positivos são fortemente sentidos no trabalho e no resultado conquistado pelos estudantes. “A gente tem feito um trabalho bem melhor agora, porque a gente compreende mais o aluno e ele tem mais rendimento em sala”, declarou a professora Cristina Meirelles.
Libras em casa
Uma das beneficiadas com as aulas foi estudante Laisla Amaral, de nove anos. Filha do meio, ela possui outros dois irmãos que nasceram sem a audição. Sem conhecer os sinais, ela contou que a relação entre eles acabava se tornando complicada. “No começo era difícil para mim, porque eu não entendia nada. Quando vim para essa escola, eu aprendi a Libras e consegui falar com meus irmãos”, explica a garota.
Se entre os filhos a situação já era complicada, para os pais das três crianças não ter uma ferramenta eficaz de comunicação de tornou um problema. A dona de casa Gilmara do Amaral relembra que tudo ficou ainda mais complicado após os filhos começarem a fazer parte do projeto e abandonar os velhos sinais.
“Quando chegou a estudar Libras, nossa senhora, mudou tudo e a gente ficou perdido. Eu chegava na escola e conversava com a professora e com a diretora que eu não estava entendendo o que os meninos chegavam em casa e falavam. Foi quando surgiu a oportunidade de estar trazendo a comunidade, os professores da escola os funcionários, porque ninguém sabia se comunicar com eles”, esclareceu
Mesmo para quem passou anos sem aprender a linguagem, poder começar agora tem se tornado uma grande experiência. A integrante Elane Soares tem dois sobrinhos deficientes auditivos. “Logo quando eles nasceram, o mais velho hoje está com 22 anos, foi uma dificuldade muito grande. Hoje a gente se orgulha por ter dois surdos na nossa família”, comentou.
* Com colaboração de Camila Domingues, da TV Gazeta