Beatriz Bombazaro descobriu a gravidez com 17 anos e que o filho teria Down com dois meses de gestação

JAD LARANJEIRA 
DA REDAÇÃO

Noticia_20160820-1A_ImagemA fotógrafa cuiabana Beatriz Bombazaro, teve a vida mudada drasticamente, quando precisou pular a fase da adolescência, para amadurecer rapidamente ao descobrir uma gravidez, aos 17 anos. Não bastando isso, ela ainda teve um choque quando descobriu que o seu bebê nasceria portador da Síndrome de Down.

Prestes a ingressar numa faculdade, contar aos pais que estava grávida já não foi fácil, como se não bastasse isso, a notícia de que o filho teria “um problema”, pelos médicos caiu como uma “bomba” em seu colo.

Hoje com 20 anos, a jovem mãe do pequeno Enzo Asafe, de dois anos, contou em entrevista ao MidiaNews que, a luta para fazer com que as pessoas entendam a deficiência do filho, começou desde os primeiros meses de gestação.

A síndrome é causada pela presença de três cromossomos 21 em todas ou na maior parte das células de um indivíduo. Isso ocorre na hora da concepção de uma criança. As pessoas com Down, ou trissomia do cromossomo 21, têm 47 cromossomos em suas células em vez de 46.

Os olhos amendoados, a face achatada, o pescoço curto, os dedos das mãos menores e menor força muscular são características comuns por conta da trissomia do cromossomo 21. Marcus Mesquita/MidiaNews

Noticia_20160820-1B_ImagemA possibilidade de ter doenças associadas – como problemas cardíacos e respiratórios, alterações auditivas, de visão e ortopédicas – também está presente. Mas, como para qualquer outra criança, isso pode ser tratado e deve ser acompanhado por especialistas.

Beatriz explica que desde o momento do nascimento, a criança precisa ser estimulada.

“Requer uma atenção especial. Fiquei um ano somente cuidando dele. Dei graças a Deus ter descoberto no começo da minha gravidez, eu pude me preparar, porque tem todo um processo de cuidado. A criança com Down pode fazer tudo que outra criança faz, só que no ritmo dela. Desde os primeiros dias precisam fazer fisioterapia e fonoaudiólogo para andar e fazer coisas básicas. Enzo também não teve nenhum problema cardíaco ou respiratório”, disse.

 Medo da aceitação

O impacto de receber um filho com necessidades especiais influencia as relações familiares, acarretando uma profunda instabilidade nessa estrutura, alterando inclusive o cotidiano familiar.

Já foi constatado em estudos, que o diagnóstico inesperado da Síndrome de Down ocasiona problemas psicológicos e de desestruturação familiar devido ao despreparo dos pais ao receber uma criança especial.

Com a jovem de 17 anos na época, não foi diferente. Segundo ela, teve muito medo no começo, mas afirma que nunca passou pela sua cabeça em retirar a criança.

“Tive um período bem depressivo quando eu descobri, tive medo porque eu baseava a Síndrome de Down por aquilo que a gente vê e ouve falar: que são aquelas pessoas com 20, 30 anos que não falam direito e tem dificuldade de inclusão social. Então eu pensava que teria que parar minha vida para cuidar dele”, relatou.

Noticia_20160820-1C_ImagemEu tive medo da aceitação das pessoas por ele, porque assim como eu não sabia como era conviver com alguém com Down, tive medo que pensassem que a minha vida teria acabado. Primeiro por estar grávida e segundo porque ele tem a síndrome. Eu fiquei com medo do que elas iam achar. Hoje eu tenho mais tranquilidade, não tenho mais nada disso”, contou.

Após quase dois anos e meio convivendo com o filho, a fotógrafa ressalta que sua vida mudou muito e para melhor. “Quem conheceu a Beatriz há três anos, não a conhece mais hoje”, afirma.

Luta contra o preconceito

Para tentar ajudar a si própria inicialmente e não ter que ser vista com olhares de “pena” pelas pessoas e ajudar futuras mães, a fotógrafa decidiu criar uma página na rede social Instagram com nome “Crescendo com o Enzo” no intuito de narrar o cotidiano do filho, desde os primeiros meses de sua gestação.

A página está com mais de 3.500 seguidores hoje e não há quem não se apaixone pelo sorriso encantador do pequeno Enzo.

“O instagram foi um meio que eu vi de tentar ajudar aquelas mães que estão com medo de passar pelo que eu já passei. Pois já vi muitas experiências de pais que se separam, pais que queriam entregar para adoção, e muitas famílias com discriminação, porque acham que vai nascer uma criança retardada. Então eu criei  página desde o inicio da minha gestação para contar como é o cotidiano, para saberem tudo como é a convivência com uma criança portadora de Down”, explicou.

A jovem conta que a sociedade ainda permanece em receio de que as crianças portadoras da síndrome, possam ser incapazes de progredir em meio às crianças consideradas normais.

Noticia_20160820-1D_Imagem“Eu não julgo ninguém, até porque eu mesma tinha um pensamento errado a respeito, mas depois que comecei a frequentar lugares e conversar com eles e com pais que passaram pela mesma situação que eu, minha visão mudou completamente. Então, é isso que eu quero que as pessoas vejam. O meu foco hoje é quebrar a ignorâncias das pessoas e tentar quebrar esse tabu de não falar sobre o assunto”, explicou.

Segundo Beatriz, ela nota constantemente quando leva o filho para passear, os olhares dos pais e o receio de deixarem os filhos brincarem com ele.

“Eu já percebi várias vezes os olhares ‘tortos’, dos pais quando seus filhos se aproximavam do Enzo. Ele é uma criança como outra qualquer, gosta de correr, abraçar e beijar”.

A jovem conta que as perguntas e os comentários são dos mais absurdos possíveis. Para ela a falta de informação é o que gera uma sociedade ignorante a respeito da Síndrome de Down.

“Já ouvi pais falando para tomarem cuidado com o amiguinho que é diferente. Para mim não se deve falar isso, porque a criança já vai crescer com aquilo na cabeça, e aí começa o preconceito. Os pais precisam tomar cuidado com o que falam”.

“As pessoas já chegaram de perguntar para mim se era contagioso, e eu fiquei com muita raiva que respondi: sim, cuidado melhor se afastar. Eu fico muito chateada quando ouço esse tipo de coisa, só que eu sei que são pessoas leigas, por isso que o meu foco hoje é mostrar para as pessoas que Down não é isso que elas imaginam. Assim como nós não somos iguais, eles também não são iguais”, explicou.

Enzo ainda não frequentou uma creche, mas a mãe conta que o medo em deixar o filho, não é do preconceito, mas pela baixa imunidade dele, que já o deixou quatro vezes internado com pneumonia.

“Eu sofri demais com as internações dele. Ele ficou três vezes internado e uma das vezes foi parar na UTI [Unidade de Terapia Intensiva], por causa de uma bactéria no pulmão. tive muito medo. Então por causa disso não coloquei ele na creche, mas ano que vem vou colocar”.

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“Falta investir em informação”

Além da página que criou, Beatriz buscar recrutar mães através de grupos pelo WhatsApp, no intuito de levar a informação sobre a síndrome.

“O que falta é tratar eles como se fossem pessoas realmente normais, que é o que eles são. Precisou ser criada uma lei para que as escolas hoje aceitassem crianças com Down. Então para chegar nesse ponto é porque  há ainda muito preconceito. Os professores não tem vontade de ensinar porque não acha que eles vão aprender. Ainda tem muito assunto para ser debatido”, afirmou.

Para a jovem, falta mais integração em diversas áreas para que se consiga ultrapassar a barreira do preconceito.

“O povo fala tanto de integração, mas na realidade não é o que acontece. Precisamos de investimentos na saúde pública que deixa muito a desejar em relação ao acompanhamento com quem é portador. O governo não oferece muita coisa e das poucas coisas que oferece, leva anos para conseguir, e acaba passando da fase em que realmente eles precisam, que é nos primeiros anos de vida”, concluiu

Fonte: http://www.midianews.com.br/

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